quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

Maternidade

Achei esse bilhete guardado. Deve ter aproximadamente um ano:

Ao meu filho querido:

Hoje mamãe brigou com vovô pelo direito de você vir pra essa casa. Mas calma, foi uma briga a toa. Ele vai entender que eu preciso de você e que você também precisará de mim e que um dia seremos unidos por laços que nem nós mesmos entenderemos.
Ainda não nos conhecemos, eu ainda não sei seu nome nem vi a cor dos seus olhos, mas já te desejo profundamente, já te amo e já penso no seu futuro.
beijos carinhosos
Mamãe

quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

Donina D'Oxum

Por favor, leia isto antes
http://www.estadao.com.br/noticias/geral,menino-com-agulhas-pode-ter-sido-vitima-de-magia-negra,483116,0.htm

Infelizmente, há pessoas que parecem querer que a imagem de uma religião tão bonita pareça horrenda para os olhos de quem não a conhece. Infelizmente, há jornalistas que publicam preconceito como notícia. Não é novidade. Ao longo da história da imprensa no Brasil, há uma infindável variedade de artigos que só fazem macular a imagem de seguidores de religiões afro-brasileiras. Fico realmente muito triste com isso.
Como se já não bastasse sofrer preconceito racial no seio da minha própria gente, como se já não bastasse sofrer preconceito racial toda vez que saio de casa, agora sofro preconceito racial dentro da minha própria casa. E pra piorar, justamente quando eu estou desarmada. É claro, dentro da minha própria casa, fui pega de surpresa. Achei que já tinha me acostumado mas o costume só faz efeito na rua. Quando a gente não sabe de onde vem não tem como se defender, não é mesmo? "Brasileira, preta, pobre. E agora macumbeira??? Poxa, você gosta de sofrer mesmo, hein!?" É, meu camarada, mas por incrível que pareça, nesse caso, eu também não tive escolha. Ou não quero ter. Já que é pra sofrer, então eu vou pra vida de peito aberto. Já que é pra lutar, então eu vou lutar até que o último soldado esteja de pé.

segunda-feira, 16 de novembro de 2009

Ilú Obá de Min

Saí de casa para o ensaio do Ilú no sábado. Meu pai perguntou a minha mãe:
- O que que ela tá dançando mesmo, hein?
Minha mãe respondeu:
- Dança Afro.
E meu pai solta:
- Vixe!!!! Só deve ter preto!

domingo, 1 de novembro de 2009

Donina D'Oxum

Meu corpo reconhece tuas formas, as ações que você exige. Meus olhos veem tua imagem e a encontra em algum lugar do passado. Passam pelas minhas narinas memórias do teu cheiro.
Minha mente te reconhece e te estranha. "O que é isso?", "Pra quem é agora?" Minhas mãos se ferem no manejo das tuas práticas. A pele da minha cintura se irrita com seus apetrechos.
Mas e a a saudade? Ah, a saudade! A saudade e a necessidade que meu corpo tem de ti são insuportáveis. Meus ouvidos querem te ouvir e minha boca quer te cantar. E eu canto. E me orgulho de nós.
Oraeieio!!!

sexta-feira, 25 de setembro de 2009

Carta anarquista

Segue abaixo Carta enviada por Pierre-Joseph Proudhon, líder anarquista, a Karl Marx. A controvésia entre os dois gerou, dentre inúmeras cartas, duas obras: Filosofia da Miséria, de Proudhon, e um livro-resposta Miséria da Filosofia, escrito por Marx. Tire suas conclusões. Ou discuta. Só não se cale.
Para Karl Marx, 1846

Pierre-Joseph Proudhon

Lyon, 17 de maio de 1846

Meu caro Senhor Marx,

Concordei de bom grado em ser uma das pessoas incumbidas de receber suas cartas cujos objetivos e organização são, a meu ver, extremamente úteis. Porém não posso prometer respostas muito extensas ou freqüentes, já que minhas múltiplas atividades, combinadas a uma preguiça natural, pouco favorecem tais esforços epistolares. Devo também tomar a liberdade de fazer certas ressalvas que me foram sugeridas por várias passagens da sua carta.

Em primeiro lugar, embora minhas idéias quanto à organização e realização do movimento estejam no momento mais ou menos definidas, pelo menos no que diz respeito aos seus princípios básicos, creio ser meu dever – como é dever de todos os socialistas – manter ainda por algum tempo uma atitude crítica e dubitativa. Resumindo: eu em público professo um anti-dogmatismo quase absoluto.

Procuremos juntos, se assim o desejar, as leis da sociedade, a forma pela qual essas leis poderão ser executadas, o processo que utilizaremos para descobri-las. Mas, por Deus, depois que tivermos destruído a priori todos os dogmatismos, não sonhemos por nossa vez em doutrinar as pessoas; não nos deixemos cair na contradição de seu compatriota Martin Lutero que, depois de ter demolido a teologia católica, lançou-se imediatamente à tarefa de criar as bases de uma teologia protestante, utilizando-se da excomunhão e do anátema. Nestes últimos três séculos, uma das principais preocupações da Alemanha tem sido desfazer o mau trabalho de Lutero. Não deixemos pois à humanidade a tarefa de desfazer uma embrulhada semelhante como resultado de nossos esforços.

Aplaudo, de todo o coração, sua idéia de trazer todas as opiniões à luz. Iniciemos sim uma boa e leal polêmica; tentemos dar ao mundo um exemplo de tolerância sábia e perspicaz, mas não nos transformemos, pelo simples fato de que somos os líderes de um movimento, em líderes de uma nova forma de intolerância; não posemos de apóstolos de uma nova religião, mesmo que seja a religião da lógica e da razão.

Vamos reunir e estimular todas as formas de protestos, vamos rechaçar toda a aristocracia, todo o misticismo; jamais consideremos qualquer tema esgotado e, quando tivermos lançado mão do nosso último argumento, comecemos outra vez – se preciso for – a discussão, com eloqüência e ironia. Sob tais condições eu alegremente unir-me-ei a vós. De outra forma – não!

Também tenho algumas observações a fazer sobre esta frase da sua carta – o momento da ação. Talvez o senhor ainda mantenha a opinião que no momento é impossível haver qualquer reforma sem que haja um coup de main, sem o que era antes chamado revolução e que na verdade não é nada mais do que um choque. Esta segunda idéia que eu entendo, perdôo e que estaria disposto a discutir, tendo eu mesmo compartilhado dela durante um longo tempo, meus estudos mais recentes me fizeram abandoná-la totalmente. Não creio que tenhamos de lançar mão dela para triunfar e, conseqüentemente, não devemos colocar a ação revolucionária como um meio para alcançar a reforma social, já que esse pretenso meio seria apenas um apelo à força, à arbitrariedade, em resumo, uma contradição. Eu coloco assim o problema: provocar o retorno à sociedade, por meio de uma combinação econômica, da riqueza que ela perdeu graças a uma outra combinação. Em outras palavras, utilizar a Economia Política para transformar a teoria da Propriedade contra a Propriedade de forma a criar aquilo que os socialistas alemães – vocês – chamam de comunidade e que eu pessoalmente me limitarei, por ora, a chamar de liberdade ou igualdade. Creio possuir os meios para resolver este problema dentro de muito pouco tempo: preferiria, portanto, queimar a propriedade em fogo lento a lhe dar novo alento fazendo uma noite de São Bartolomeu com aqueles que a têm nas mãos.



(in Correspondência, 1874 – 1875)

quarta-feira, 8 de julho de 2009

Uma orixá escolheu meu corpo pra brincar!!!

Experiência que eu não poderia deixar tornar pública de alguma maneira...

No último dia 27, visitei com um amigo, seu filho e sua namorada (Monahyr, obrigada mesmo, cara!!!) o terreiro de candomblé da Mãe Dida, no bairro do Cecap, em Guarulhos.
Apesar da identificação com a religião, confesso que fui ao ritual sem grandes pretensões, afinal, eu estava vivendo uma vida bastante cética. Fui conhecer a religião dos meus antepassados, fui tentar entender porque era não renegada e sofria tanto preconceito. Fomos.

No caminho, por me conhecerem um pouco, os viajantes começaram a tentar adivinhar o orixá de minha cabeça, ou seja, de qual orixá do panteão eu era filha. Brincadeiras a parte, chegamos ao local. Estava apreensiva, afinal, tinha ouvido falar tantos absurdos de tais rituais... (aqui cabe um parênteses - eu queria muito descobrir meu orixá, mas por estar desempregada não tinha dinheiro para jogar os búzios). Minha Mãe mostrou-me sua identidade de outro jeito.

Cada terreiro define a ordem na qual reverencia cada orixá, e eu sinceramente desconheço como cada um é. Meus companheiros se incubiam de me contar a ordem em que cada um dos orixás era "chamado". Eu não sei bem em que altura do ritual, percebi a mudança da música e percebi que se tratava da mudança do orixá a ser reverenciado. Perguntei a meu amigo que Quem se tratava naquele momento. Ele me disse que era Oxum. ( Outro detalhe importante: meses atrás, sonhei com uma amiga vestida de dourado, que me aconselhava. Tempo depois, descobri que se tratava de Oxum.) Não entrei em detalhes, mas contei sobre o sonho. Ele me disse: - Ela é sua mãe.

Comecei a chorar descompassadamente e a partir daí minha lembrança só tem fleches. Um rapaz que participava do ritual veio até mim e me pediu calma. Lembro de me tirarem o casaco e os sapatos. Fui levada ao centro da roda dos orixás e a partir daí as lembranças são ainda mais escassas. Minhas mãos formigavam, eu chorava muito, gritava, ria e dizem que eu dancei um pouco. Não sei se por falta de iniciação, ou se porque é assim mesmo com todo mundo, mas eu me sentia consciente. Ao mesmo tempo em que sentia tudo isso, eu pensava: Não acredito que isso tá acontecendo. Ou consegui perceber quando me guiavam delicadamente no centro do terreiro e pensar: Alguém tá me puxando, melhor eu me deixar levar.

Logo depois, Mãe Dida pediu que eu me acalmasse, que respirasse. Oxum foi deixando meu corpo, senti minhas mãos voltarem ao estado normal, mas eu ainda chorava muito. Me deram água, pediram que eu sentasse. Eu ainda chorava. Me sentia lisonjeada. Naquele dia, minha Mãe Oxum escolheu meu corpo pra brincar, pra participar da festa. Ainda chorando, Mãe Dida me convidou a dançar pra Oxum, e eu a revenciei com toda força do meu coração e com toda a graça que poderia impor a minha dança, porque estava dançando pra Oxum. Busquei meus trejeitos mais graciosos e minha postura mais ereta, de bailarina enferrujada, porque estava dançando pra Oxum.

A experiência me deixou em estado de graça durante dias, e até hoje, depois de passadas quase duas semanas, eu me lembro com saudade da sensação, de tudo. Me vejo querendo voltar aquele estado de catártico. Infelizmente, por não querer causar atrito em minha casa, por hora ainda não acendi nenhuma vela pra minha Mãe Oxum, mas ela sabe que há um vela acesa pra Ela no meu coração, e que há uma vontade imensa de sentir de novo o que senti.

ORAIEIÊU, OXUM!!! ORAIEIÊU!!!

domingo, 14 de junho de 2009

Oração a São Jorge

Eu andarei vestido e armado com as armas de São Jorge para que meus inimigos, tendo pés não me alcancem, tendo mãos não me peguem, tendo olhos não me vejam, e nem em pensamentos eles possam me fazer mal.

Armas de fogo o meu corpo não alcançarão, facas e lanças se quebrem sem o meu corpo tocar, cordas e correntes se arrebentem sem o meu corpo amarrar.

Jesus Cristo, me proteja e me defenda com o poder de sua santa e divina graça, Virgem de Nazaré, me cubra com o seu manto sagrado e divino, protegendo-me em todas as minhas dores e aflições, e Deus, com sua divina misericórdia e grande poder, seja meu defensor contra as maldades e perseguições dos meu inimigos.

Glorioso São Jorge, em nome de Deus, estenda-me o seu escudo e as suas poderosas armas, defendendo-me com a sua força e com a sua grandeza, e que debaixo das patas de seu fiel ginete meus inimigos fiquem humildes e submissos a vós. Assim seja com o poder de Deus, de Jesus e da falange do Divino Espírito Santo.

Ogum Rogai por Nós.

segunda-feira, 26 de janeiro de 2009

Pra que título?

Quando eu era mais jovem, o meu maior desejo na vida era ser livre. Agora que o que eu pensei que fosse liberdade chegou, não sei o que fazer com ela. Quando eu desejava ser livre e disse isso para minha professora de ballet ela me respondeu: " Impossível, um dia a vida te engole! " Eu nunca me esqueci disso. E agora acho que a vida me engoliu. Os meus desejos de liberdade foram trocados pelo desejo de um emprego estável e de uma bebida confortável (whysky com duas pedras de gelo, por favor). O que foi que eu fiz com meus sinceros desejos de liberdade?

quinta-feira, 15 de janeiro de 2009

15 de janeiro de 2009

Missa de sétimo dia é uma merda. Só serve pra lembrar da dor da morte mais uma vez. Quando morrer, não quero que se celebre missa de sétimo dia. Já basta uma vez a dor da perda.
--------------------------------//----------------------------------

Aviso aos homens:
Nunca deixe uma mulher se perfumar para sair com você para depois você desmarcar o encontro. O vestido se tira, a maquiagem também, mas o perfume fica pairando, lembrando o encontro que não aconteceu.

domingo, 11 de janeiro de 2009

Júlia Teodósio da SIlva (1919 - 2009)

Se foi, deixando filhos, netos e bisnetos com muita saudade. Se foi, tendo vivido uma vida repleta de muita luta e trabalho. Se foi, deixando um exemplo de força e coragem. Meu medo é não ter certeza do lugar onde ela está, se é que ela está em algum lugar. Meu medo é que tudo tenha acabado naquela pele fria e endurecida. A morte é feia e estranha. É muito difícil acreditar que ela está em algum lugar, mas é duro achar que ela pode não estar em lugar algum.
De qualquer modo, eu nunca vou esquecer sua imagem nem sua história.
Te amo vó
Cibelle

quinta-feira, 8 de janeiro de 2009

Sono pra que te quero.

Dormir
Breve estado de nada ser
De nada pensar
De nada nada
Breve morte
Leve morte
Dura morte.