quarta-feira, 3 de dezembro de 2008

Senhoras e senhores, desculpem o sumiço, mas ando muito atarefada.
Venho agora contar-lhes a vida de uma personagem real, que me encanta. Ela é aluna de uma escola da periferia de Guarulhos, mora em uma casa simples, terreno invadido, com a mãe e a irmã pequena. Vamos chamá-la de T. T. me encanta porque tem comentários incríveis sobre assuntos que nem sabe que sabe. Quando crescer, quero ser como ela.
T. me disse um dia que não se considera negra, embora eu veja uma pessoa negra quando olho pra ela. Mas eis que certo dia ela me disse: ... pelo amor de Deus. E eu respondi: Que Deus? T. então me perguntou: Você não acredita em Deus professora? E eu disse: Não da maneira que a maioria das pessoas acredita. T. olhou pra mim com uma cara de quem me pegou e perguntou: Você vaina macumba professora? Porque eu vou!! Podemos marcar um dia para irmos juntas! E eu fiquei de queixo caído. É claro que não são só negros que frequentam os terreiros nesse país, mas é incrível como ela está ligada a suas raízes de maneira tão entregue.
Certa feita, estava eu com meus cabelos crespos pouco tradicionais presos de maneira discreta. T. que tem os cabelos alisados me pede: Professora, solta o cabelo! Eu queria usar ele assim, mas não tenho coragem. A morena T. sabe de sua cor, um dia ela chega lá. E eu vou ter me orgulhado de ajudar.
Pra finalizar: estava eu na casa de T. quando sua mãe a proíbe de sair com um shorts muito curto, porque os homens ficariam olhando seu corpo. E T., para minha surpresa, responde: E daí! Eu vou sair com o shorts porque eu quero, e daí que vão olhar. Vou deixar de sair por causa disso agora? T. é uma feminista como poucas. Um dia serei como ela. Um dia.